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Carta despretensiosa dos 38 anos.

Olá Diva,

Como tem passado? Por aqui tenho novidades.


“ E aí, como está se sentindo com 38 anos ”? Me perguntaram entre tantas mensagens de afeto, entre áudios enviados com lembranças de momentos vividos por amizades duradouras que já alcançam décadas e por outras até recentes, mas, que atravessam ciclos e são deveras importantes.

Confesso, querida diva, que já passei por aniversário que me sentisse mais isolada do que esse, já que é 2020 e estamos em meio à pandemia, pois, tive uma comemoração inusitada, por chamadas de vídeo, e olha que teve até “live” dançante no Instagram! Uau! Estiveram reunidas pela telinha do celular, divas, amigas e até a família!

Terminei a aula e ainda disse para meu companheiro que era como se eu tivesse organizado um espetáculo e tivesse lotado a casa! Que diferente pra mim foi ter essa experiência. Sabe, essa sensação de estarmos afastados mas, valorizando a vontade de abraçar!? Será que vão inventar uma expressão para esse sentimento ou continuará sendo saudade mesmo? Mas além de todo o clima de gratidão que envolve o dia de aniversário, comigo também é um dia que provoca muitas reflexões. Acontece com você também? Vou compartilhar algumas delas.

"Quantos anos"? Percebo o tom de voz quando ouço essa pergunta. Gosto de dizer minha idade, não tenho problemas com isso e sinceramente, essa ideia de que mulheres devem esconder suas idades, ou que não podem mostrar que estão envelhecendo, como todo ser vivente cíclico num processo natural da vida, me dá arrepios.

Cresci convivendo com uma avó muito marcante na minha vida e apesar da geração dela ser diferente da minha, ela era bem à frente dos costumes da sua época, como ter filhos após os 40 e assumir seus cabelos grisalhos como expressão da sua beleza. Dessa forma, eu cresci admirando a sabedoria de mulheres maduras e as diferentes fases de beleza das mulheres. Foi nisso que coloquei tantas expectativas quando comecei a casa dos trinta.

Ah sim, mas, como me sinto com "3.8"? Estou me parabenizando mais, olhando o passado com carinho e reconhecendo cada esforço, deslize, erro, nãos e portas fechadas que recebi, assim como também, cada caminho que escolhi sendo muito grata por ter arriscado, permanecido ou desfeito.

Já realizei muito dos meus sonhos que tinha me proposto para essa etapa. Sinto uma relação com o tempo de uma maneira muito mais profunda, olho o mundo e as pessoas mais intensamente. Sou grata por coisas simples que antes nem me passavam pela cabeça. Leio muito e escrevo diariamente, estou gerando uma tese. Faço troca de mudas de plantas e falo sobre minha menstruação com pessoas que nunca imaginei conhecer um dia. Continuo escolhendo dançar e trabalhar com a arte, acreditando no potencial da cura do mundo pelo aspecto do feminino.

Mantenho um grupo no whatsapp das amigas que estão cada uma em um canto do mundo mas, que quando uma diz algo, sinal que precisamos ajudar a superar a crise dos 40. Como tenho gostado dessa expressão e feito uso dela: rede de apoio! Não faço uso mais de derivados de leite e queijos não tem me feito falta. Estou me sentindo bem com o corpo, admirando os fios brancos que já fazem parte desde os meus 16 e que fico contando para deixar uma mecha inteira sem colorir. A minha relação com meu corpo mudou bastante.

É bem curioso ver como algumas pessoas se estranham quando digo que não estou fazendo botox etc etc. E não porque sou contra quem faça, talvez eu faça algum dia, mas, pelo fato de que há uma lógica que a juventude feminina deve ser enaltecida, mulheres devem ser mocinhas e donzelas para sempre, qualquer sinal de envelhecimento deve ser combatido e disfarçado.

Pergunto para onde vão os sinais de combate que tivemos ao longo da nossa caminhada? E aquelas lágrimas que escorreram no meu rosto? Aquela covinha que faz quando eu rio muito? E por falar em rir muito, esses dias me falaram: seu sorriso é gengival, faz um procedimento para as pessoas não verem muito da sua boca quando você sorrir. Sabe diva, pensei bem, eu quero escolher as pessoas então que estão dispostas a me verem escancarada quando eu sorrir, pode ser?

Eu disse que seria despretensiosa, e é isso.

Quando passar essa quarentena, vamos nos encontrar pessoalmente!


Abraços dançantes!

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